Quando a gente perde tudo, o que realmente nos resta?

Perder dinheiro não significa perder tudo, mas quando se perde o caráter, aí sim, tudo se desfaz

Se você tivesse apenas três meses de vida, o que faria a partir de agora? Quais seriam seus pensamentos, comportamentos e atitudes? Você deixaria seus medos de lado? Para onde iria? Essas perguntas surgiram enquanto me voluntariei no Rio Grande do Sul durante a tragédia das fortes chuvas que assolou o estado. Lá, vivi experiências que marcaram minha vida para sempre.

Uma das situações que me chamou a atenção foi ver voluntários limpando as casas de pessoas afetadas pelas enchentes. Móveis e objetos eram descartados como se não tivessem valor algum, mas para aquelas pessoas que perderam tudo, cada um daqueles itens tinha um valor inestimável. A partir daquele momento, comecei a refletir: e quando se perde tudo? Casa, emprego, família – tudo aquilo que define quem você é. O que, de fato, você se torna?

Recentemente, um estudo revelou o impacto devastador das enchentes de maio de 2024 na saúde mental dos moradores do Rio Grande do Sul. A pesquisa “Impacto da Catástrofe Climática de 2024 na Saúde Mental de Moradores do Rio Grande do Sul”, realizada pelo Serviço de Psiquiatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), constatou que 91% dos moradores do estado foram afetados psicologicamente pelas cheias.

Saúde mental

Entre os sintomas mais comuns estão a ansiedade (91%), burnout (59%) e depressão (49%). Esse estudo sublinha a profunda resiliência necessária para enfrentar as adversidades e como essas experiências podem moldar a percepção das pessoas sobre o que realmente importa em suas vidas.

Em uma de minhas palestras, abordo “o lado positivo de ter câncer”. A ideia central é que, ao enfrentar uma doença tão devastadora, muitas pessoas encontram uma nova perspectiva sobre a vida. Elas passam a valorizar mais o presente e as pequenas coisas que antes poderiam ter passado despercebidas. O câncer, embora seja uma experiência dolorosa e difícil, pode servir como um catalisador para profundas transformações pessoais.

Naquele momento, explico a importância do perdão – não apenas perdoar os outros, mas também a si mesmo. Muitas vezes, guardamos mágoas e ressentimentos que nos impedem de seguir em frente. O processo de perdoar é libertador e essencial para a paz interior. Dar tempo ao tempo, reconhecer que algumas feridas levam tempo para cicatrizar e que a paciência é uma virtude necessária.

A técnica dos SEALs, as forças especiais da Marinha dos Estados Unidos, é um ótimo exemplo de superação. Eles passam por um treinamento extremamente rigoroso, tanto físico quanto psicológico, onde são levados ao limite absoluto. A ideia é que, em situações de extrema pressão, apenas os mais fortes mental e fisicamente conseguem perseverar. Este treinamento serve como uma metáfora para os desafios da vida: ao enfrentar adversidades extremas, descobrimos nossa verdadeira força interior e capacidade de resiliência.

O valor das pequenas coisas

Sempre que se sentir fraco, pare um minuto e imagine sua casa, o lugar onde seus pais te ensinaram a andar de bicicleta, onde você subia em árvores. Suas raízes te dão o poder de correr riscos e de se levantar toda vez que cair. Em dias sombrios, nunca esqueça sua “rodina”, uma palavra russa que significa pátria ou terra natal, evocando um sentimento de amor e devoção.

Lembre-se de como uma lagarta se transforma em borboleta: o processo é lento, mas resulta em uma transformação completa e irreversível. Em vez de nos preocuparmos com o futuro, devemos focar no presente, no agora. É essencial entender que perder dinheiro não significa perder tudo; perder a saúde é perder uma parte significativa da vida. Contudo, quando se perde o caráter, perde-se absolutamente tudo.

Esteja onde seu valor é verdadeiramente reconhecido

Uma vez, ouvi a história de um pai que deu um carro antigo à sua filha quando ela se formou. Ele a instruiu a levá-lo a um lote de carros usados no centro da cidade e ver quanto ofereciam por ele. O valor oferecido foi de R$ 4 mil. Depois, ele pediu para que ela fosse a uma loja de penhores, onde ofereceram apenas R$ 2 mil. Por fim, ele a orientou a levar o carro a um clube de carros. 

Lá, a filha recebeu uma oferta de R$ 400 mil, pois o carro era um Nissan Skyline R34, procurado por colecionadores. O pai então disse: o lugar certo valoriza você da maneira certa. Se você não é valorizado, significa que está no lugar errado. Aqueles que conhecem o seu valor são aqueles que te apreciam. Nunca permaneça em um lugar onde ninguém vê o seu valor.

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