Por Cristiano Zanetta
Em um mundo onde o sucesso profissional é frequentemente priorizado, um aspecto fundamental acaba sendo negligenciado: a saúde mental. A depressão, um dos maiores desafios de saúde da atualidade, afeta cada vez mais o ambiente corporativo, mas os sinais iniciais de sofrimento emocional ainda são frequentemente ignorados. Muitos gestores tratam a depressão como uma questão individual, sem reconhecer o papel determinante que o próprio ambiente de trabalho desempenha no bem-estar psicológico de seus colaboradores.
Uma pesquisa recente do Infojobs revela que 86% dos funcionários considerariam trocar de emprego para preservar sua saúde mental. Além disso, 61% dos trabalhadores relatam insatisfação ou infelicidade no trabalho, enquanto 76% conhecem alguém que precisou se afastar devido a problemas psicológicos.
Portanto, empresas que falham em abordar essas questões de maneira estruturada enfrentam uma perda potencial não apenas de produtividade, mas também de talentos valiosos.
Setembro Amarelo: um chamado à ação para empresas
O ambiente de trabalho, muitas vezes, se torna um cenário de pressões emocionais intensas que podem agravar transtornos como a depressão. No mês de setembro, com a campanha do Setembro Amarelo, através da a conscientização sobre a prevenção do suicídio, este é o momento ideal para que as empresas possam além de discursos e ações pontuais passem a incorporar práticas de cuidado contínuo com a saúde mental de seus colaboradores.
No ambiente corporativo, a ausência de uma política clara de suporte emocional faz com que muitos funcionários hesitem em buscar ajuda, o que pode agravar ainda mais o problema. Empresas que assumem sua responsabilidade pela saúde mental criam um impacto duradouro em seus colaboradores. Oferecer atendimento psicológico contínuo, promover diálogos abertos sobre o tema e capacitar líderes para identificar sinais de sofrimento são medidas essenciais que podem, literalmente, salvar vidas.
Exemplos como Unilever e Ambev mostram como grandes corporações têm adotado políticas de bem-estar ao longo dos anos. Programas de apoio psicológico, flexibilização de horários e iniciativas que incentivam a prática de atividades físicas são apenas algumas das ações que evidenciam o compromisso dessas empresas com a saúde mental de seus funcionários, reforçando a importância de um ambiente de trabalho saudável e equilibrado.
Impacto do turnover
O turnover, relacionado à depressão, representa um dos maiores desafios silenciosos dentro das empresas atualmente. A constante saída de colaboradores gera uma perda significativa de talentos que não pode ser facilmente substituída. Além disso, o custo de contratar e treinar novos profissionais é elevado, podendo atingir até duas vezes o valor do salário anual de quem saiu. Esse processo envolve despesas com recrutamento, adaptação, treinamentos e, em muitos casos, a perda de conhecimento especializado que o colaborador anterior tinha sobre a empresa.
A saída de um funcionário afeta diretamente a moral da equipe, que se vê sobrecarregada para cobrir as lacunas deixadas, gerando um efeito dominó de estresse e desmotivação. A sensação de instabilidade pode se alastrar pelo grupo, tornando o ambiente de trabalho mais tenso e menos produtivo. Com o tempo, o ciclo se perpetua: colaboradores sobrecarregados e emocionalmente abalados são mais propensos a desenvolver problemas de saúde mental, aumentando o risco de novos afastamentos e saídas.
Investir em suporte psicológico e criar um ambiente de trabalho acolhedor são medidas essenciais para reter talentos, reduzir o turnover e manter uma equipe engajada e produtiva.
Uma pesquisa da Ticket, da Edenred Brasil, com mais de 500 participantes, revela que 56% dos profissionais brasileiros nunca receberam apoio psicológico ou psiquiátrico focado em sua saúde mental. Esse dado é alarmante, considerando que, segundo um estudo da Gallup, funcionários engajados têm 21% mais chances de serem produtivos — e esse engajamento está diretamente ligado ao bem-estar mental.
O papel da liderança e da cultura organizacional
Em meu livro, ‘A Ciência do Batman’, enfatizo a importância da liderança humanizada como ponto central para quem precisa liderar pessoas. O líder é muitas vezes o primeiro a notar mudanças de comportamento em sua equipe, mas se não estiver capacitado para reconhecer e lidar com esses sinais, a situação pode rapidamente sair de controle. Empresas que investem em treinamentos voltados ao desenvolvimento da inteligência emocional e da capacidade de diálogo de seus gestores estão à frente na prevenção de afastamentos por depressão.
A cultura organizacional também desempenha um papel crucial nesse contexto. Ambientes que incentivam a competição predatória, a sobrecarga de trabalho e a falta de equilíbrio entre vida pessoal e profissional tendem a gerar níveis elevados de estresse e esgotamento. Por outro lado, empresas que promovem o bem-estar, a escuta ativa e oferecem apoio genuíno aos seus colaboradores conseguem criar um ambiente no qual a depressão tem menos espaço para se manifestar.
Perder funcionários por depressão é uma realidade que muitas empresas enfrentam, mas é possível reverter esse cenário. Valorizar a saúde mental é uma responsabilidade social. Empresas que se comprometem com o bem-estar dos seus colaboradores além de reter talentos, também criam uma cultura de cuidado e humanidade. Não há super-herói sem uma rede de apoio. O sucesso coletivo só é alcançado quando todos estão mentalmente preparados para superar os desafios.
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